quarta-feira, 7 de maio de 2025
Preconceito linguístico
O R caipira
Olá pessoal! Há tanto tempo sem nos vermos ou falarmos, que estou com saudades. Esta postagem foi feita originalmente em 7 de maio de 2023 para um projeto que talvez eu fale sobre, num encontro presencial. Como sabem, antes de fechar o blog, fui de mudança para o oeste catarinense e após alguns anos lá, hoje moro na capital. Continuo com a minha fala caipira. Aproveitando o gancho, quantas vezes já ouviste uma pessoa que mora em cidades do interior paulista ou paranaense pronunciar palavras com o som do r diferente? Talvez você mesmo já tenha sido alvo de piadas por falar diferente do outro.
Como os leitores deste blog são artesãs de vários estados brasileiros, pensei em abordar este assunto, embora nos nossos encontros presenciais sempre houve respeito e apreço pelo falar individual dos membros do grupo. Portanto, quero dividir algo com todos. Aqui é um espaço em que trocamos saberes, e aprendi recentemente sobre a existência de um alfabeto fonético, assim como usamos o alfabeto para grafar as palavras, os estudiosos da área de fonética e fonologia usam este alfabeto para grafar os sons. Quando eu procurava palavras no dicionário, sempre via a palavra e em seguida outra entre colchetes. Esta forma grafada entre colchetes é a escrita fonética, inclusive há um alfabeto fonético internacional, cujas letras são representadas pelo símbolo de seus sons respectivos.
Diz a Prof.ª Dr.ª Vanderci de Andrade Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina, que na colonização do país, esta variante de som foi um recurso linguístico utilizado pelos indígenas, pois não produziam o som do r e do l. Daí surgiram as palavras que “o povo da roça” fala, por exemplo, na palavra falta, eles não conseguiam pronunciar o l e saía “faɽta”. Sabia que este r com este som tem um nome? È r retroflexo. Em outro idioma, por exemplo, o inglês, se a palavra park for pronunciada por nativos do interior texano, será com o r Retroflexo, cujo símbolo fonético (som) é o destacado abaixo, porém se for ouvido por um brasileiro, ele achará o máximo, pois é um idioma estrangeiro. Então, por qual motivo estigmatizar a fala regional de uma pessoa? Vamos valorizar o que é nosso?
Segundo a pesquisadora Cândida Maria Britto Leite, os participantes de sua pesquisa acham que o falar das pessoas de um grande centro como a cidade de São Paulo é mais bonito, embora reconheçam que há variações dialetais nas regiões do Brasil. Nesta mesma pesquisa, houve perguntas entre cidadãos de Campinas - SP e outros oriundos de São José do Rio Preto - SP, e os campineiros acham que o seu falar é intermediário, distanciam-se assim dos indivíduos mais interioranos.
No início do século XX, um estudioso da nossa língua, Amadeu Amaral já estudava o dialeto caipira, embora seu objeto de estudo fosse o falar paulista, ele registrou esta variante linguística por todo o país, até entre as classes mais prestigiadas socialmente. Há um vídeo de 2016 sobre os sotaques brasileiros que trata disto. Você pode acessá-lo se clicar AQUI.
A nossa língua é tão rica, as contribuições dos vários povos que aqui vivem a tornam bela e melódica. Que tal sermos mais empáticos com a fala da pessoa ao seu lado? O outro fica feliz e o mundo está a precisar de mais empatia que preconceitos.
Até a próxima!
Para saber mais:
AMARAL, Amadeu. “O dialeto caipira”. 1ª ed. Parábola Editorial - São Paulo, 2020
LEITE. Cândida Mara Britto. Atitudes linguísticas : a variante retroflexa em foco. Mestrado. Disponível em: https://abrir.link/rnOfp Acesso em 31 Mai 2023
CONSTANT, Giovanna. Jornal Hoje: Sotaques do Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AEwH-1CPTZM. Publicado em 17 Ago 2016. Acesso em 31 Mai 2023.
GLOBO, Rede. “Sotaques do Brasil" desvenda as diferentes formas de falar do brasileiro. Disponível em: https://abrir.link/iTHQT Acesso em 19 Jun 2023.
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